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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Parábola de qualquer coisa...

José foi concebido graças a uma conspiração do poder da natureza frente às incoerências do homem. Herdeiro apenas do próprio nome, cresceu ouvindo que sua presença na terra tinha um propósito, uma missão. Aos dezesseis, após ter vivenciado toda sorte de sofrimento (vários imaginários), questionava se aquilo que sempre todos o diziam era mesmo verdade. A busca dessa resposta o fez ficar reticente, introspecto, quixotesco. Sua imagem no espelho o desagradava e seu reflexo no outro era distorcido: corpo e espírito não chegavam a um consenso. Ao querer aprofundar seu autoconhecimento, perdia-se na superficialidade do que o cercava. Nas bodas de prata de sua existência e, contraditoramente, exercendo o ofício da construção, resolveu brindar com todos os seus amigos de séculos passados com um desfecho dionisíaco. Musas cintilavam em suas sinapses quando deu conta de si com o corpo inebriado sobre uma faixa de pedestre na contramão quase atrapalhando o sábado à noite de alguns poucos carros imponentes que transitavam no momento. Ao notar o sentido de uma seta inserida na circunferência de uma placa veio uma faísca de entendimento. Aos 95 anos, casado, cinco descendentes (um deles chamado de Emanuel, 33 anos) ainda não sabe sua real missão. Mas desconfia que seja apenas viver as possibilidades e aproveitar as certezas.

Henri-Strauss Palais
(reles mortal que almeja, quem sabe um dia, mesmo que seja o último, ser imortal...utopia?)

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