Pesquisar este blog

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Alegoria do DISCRETO BRASILEIRO, porém (...)

Meu nome é José, nome importante e COMUM ao mesmo.

Meu sobrenome é Silva, pertenço a MAIOR família do Brasil.

Tenho mais de milhão de primos que receberam o mesmo HONROSO nome.

TRABALHO de segunda a sexta, de oito as dezoito e na praça caminho até suar. Sempre acompanhado, pois com tantos primos não me falta companhia. Observo de tudo um pouco, mas penso muito sobre tudo o que OBSERVO.  

No sábado mercantil, no DOMINGO praia.

Maria minha mulher, figura ILUSTRE da outra grande família do Brasil, também tem milhões de primas.

SANTA até no nome, pois seu sobrenome é Santos, faz tudo para que nosso LAR tenha a paz.

Nossos dois filhos, João e Ana, HERDEIROS do Brasil dos Silva Santos, nos enchem de orgulho. Formados pela FAMÍLIA, escola e vida, serão os redentores da próxima geração.

Vida simples, vida digna, vida sem grandes AVENTURAS, vida comprometida com a família, com a Fé e com o trabalho.

Por que nossa família é tão grande, mas parece tão DISPERSA?

Por que nosso feijão com arroz parece sem TEMPERO?

Por que a tranquilidade INCOMODA tanto?

Por que o coerente e o EQUILIBRADO parecem medíocres?  

Utopia, PIEGUICE, puritanismo, demagogia, simbolismo (...)  

Títulos, posses, volumes, quantidades, vezes, EXAGEROS, correria (...)

O efêmero, o volúvel, o PROMISCUO, o coisificado, o mecanizado, o especializado, o modernizado (...)

Não entendo por que o SIMPLES perdeu seu charme, por que o verdadeiro soa tão falso.

Por que me pedem para assumir a chefia, conduzir a reunião das DESUNIÕES, aparecer na fotografia, a comprar sem precisar, a ter sem poder, a poder sem merecer, a sentenciar sem PONDERAR, a matar sem antes querer viver, a temer sem inteligentemente enfrentar, se no lugar onde estou, posso de camarote assistir toda a peça e APRENDER com o experimento alheio, sem INCORRER no erro do repetir?

Serei eu acomodado? E a ASPIRAÇÃO? E a ambição? Serei eu incapaz? Devo fazer tantas coisas? Estas situações são realmente necessárias? Por que tanta vontade que nunca se satisfaz? Só eu enxergo o ÓBVIO?

Não!!! BASTA, afinal já são dezoito horas e tenho que voltar para casa, pois Maria me espera.

Em casa faremos nossa verdadeira REUNIÃO. Sentados, em torno na sagrada mesa, tomando o saboroso café, molhando o quentinho carioquinha amanteigado, discutir assuntos verdadeiramente importantes:

Dizer o SIM e o NÃO sem ter que receber o CARÃO e sem cair com o CARA no chão. Pois a única saída para a grande Família Brasileira é não viver na ILUSÃO.   

Os.: Esta biografia cabe em apenas uma única página (...) porém, pode retratar o subjetivo que o DISCRETO só revela aos olhos dos que realmente querem enxergar.

Saúde e Paz,

Ido Ader.


quinta-feira, 9 de junho de 2011

TARDE

                           I
Embaixo da asa de um sentimento nato
Contemplando o mundo por outros olhos
Percebo agora que senti frio,
De fato

Do romper do laço de bodas eternas
Da ruína da mentira paternal
Vi o mundo em preto e branco
Não sentia minhas pernas

Não sei tarde, ergo-me agora
No parcial controle do vôo de um sentimento renovado
Tento com olhar, palavras, contato
Resgatar a hora

Hora de articular uma palavra sem temor
Conjugar o verbo na sua presença
Sentir o sopro de vida
Em sua plenitude, o amor.

                         II
Vontade de voltar atrás e dizer à algumas pessoas o quanto eu as amava.
Amor fraternal, carnal, espiritual.
Dizer muitos sim e um não eventual.
Ter deixado o que é efêmero e abraçado a presença que é para sempre.
Agora vejo que a vida é bem mais simples.
E sou mais complexo do que poderia ser.
Nessa inequação me resta a ruína do tempo.
Grito...dispnéico...ajuda...solidão...não tenho chão.
Henri-Strauss Palais