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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Natureza + Homem = Natureza Humana, soma zero...

Isso é uma confabulação, mais do que uma fábula...

         Um biólogo renomado resolve fazer uma descrição comportamental do ser humano no habitat natural, ou seja, a cidade. Assim como a observação de gorilas, andorinhas, pinguins, cervos ou golfinhos, tal biólogo pretende uma descrição comparativa com tais animais, registrando tudo num caderninho de anotações e visitando nichos específicos: o 1º dia num shopping, o 2º dia num setor de telemarketing, o 3º dia num bar, o 4º dia numa escola, o 5º dia numa igreja, o 6º dia num ônibus. Provido de precaução e sensatez, ele assistiu várias aulas com antropólogos catedráticos e leu obras de referência, onde assimilou a relatividade, a efemeridade, a insuficiência da explicação generalista, a especialização descontextualizada, a subjetividade... Sua pesquisa de campo estende-se por apenas seis dias, desistindo da façanha e voltando a dividir moradia com caranguejos num mangue, objetos de sua próxima pesquisa... No caderninho, deixou algumas linhas escritas, poucas, mas que pontuam umas curiosidades:

É tão interessante quanto confusa a fauna humana... São animais que:

1. Falam aquilo que não sentem ou que não acreditam;
2. Fazem aquilo que não querem fazer;
3. Vivem em bando, mas por interesses próprios;
4. Quanto mais amam, mais sentem raiva;
5. Vivem em função de obrigações, mas relacionam-se sem obrigação de terem vínculos;
6. Somatizam o tempo por dois ponteiros, ao invés do relógio biológico ou de olharem um pôr do sol;
7. Valorizam o dinheiro, mais do que a própria comida;
8. Tem um poder de raciocínio e abstração impressionantes, porém poucas vezes usados, por exemplo, no cálculo da velocidade, volume, distância e força do arremesso de uma bola num jogo. O potencial intelectual, na verdade, é utilizado para decodificarem o valor de horas/minutos em cifras nos jogos de bola com tempo monetarizado, chamado Copa do Mundo ou Campeonato Brasileiro, e de resto predomina apenas a irracionalidade e agressividade nos bandos das torcidas organizadas;
9. Ao invés de ensinarem seus filhos a caçarem e usarem seus dotes intelectuais, os pais outorgam-lhes apenas dinheiro, batizado como “herança”, não sendo nem gene e nem conhecimento herdados;
10. Priorizam a comunicação à distância, e não a comunicação para se aproximarem-se dos outros.
11. Usam o medo para auto-destruição e isolamento dos demais, e não como auto-preservação e/ou defesa da espécie;
12. Temem envelhecer, engordar, adoecer, ficar só, perder a sanidade ou ficar pobre, e ao mesmo tempo alguns ganham com essa “epidemia” do medo;
13. Querem coisas que deixam seus corpos e inteligência subutilizados, como o carro a poupar as pernas, a sibutramina a poupar a fome, o supermercado a poupar a caça, o celular a poupar o olhar, o shopping a poupar a subsistência, a câmera fotográfica a poupar a memória, o livro de auto-ajuda a poupar o auto-conhecimento, o fast-food a poupar a alimentação, a indústria da pornografia a poupar a imaginação, a escola a poupar a vivência, a lipoaspiração a poupar o tempo, o sedentarismo a poupar o cansaço;
14. Ao mesmo tempo em que essas próteses subestimam seus corpos e inteligências, eles, não satisfeitos, usam esses objetos para marcarem territórios, serem aceitos nos bandos e acasalarem-se;
15. São orgânicos e tem dotes sensoriais / senso estético, mas acreditam apenas no sintético e no virtual;
16. Sofrem mais por questões “de dentro pra fora” do que “de fora pra dentro”;
17. Morrem por ações de membros da própria espécie, mais do que por desastres naturais, parasitismos ou cadeias alimentares.

Apesar de uma espécie interessante, desisto de compreendê-la! Pesquisa invalidada por excesso de contradições! Ass. Charles Darwin Neto

                                                                                         Att. Sabugosa

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